19/08/2013

Três anjos

É incrível você deparar-se com algo tão inimaginável.
As pessoas criam uma impressão um pré conceito, dos moradores de rua.
"São drogados, são vagabundos, são perigosos."
E esquecem-se dos vagabundos , drogados, nojentos e perigosos que usam gravatas, roupas e estudam em faculdades caras, e não são julgados ou rotulados por conta dessa grossa camada de disfarce chamada dinheiro, ou posição social.
Em um único dia, conheci dois moradores de rua, que vieram até mim conversar, um se chamava Carlos e outro Wilson, cada um mais educado que o outro, eles não me pediram dinheiro, eles queriam apenas conversar com alguém. E eu conversei com eles, conheci a historia dos dois, vi o sofrimento no olhar de cada um, vi a vontade de rever a família e um conflito interno por não querer voltar pra terra sem nada a oferecer, e vi nos olhos e nas palavras de cada um as palavras de Deus, um Deus que eles acreditavam cegamente e diziam que Ele jamais os abandonou e que aguardavam nele uma luz, uma saída.
Dois homens que você, ou qualquer outra pessoa atravesseria a rua para não ter que passar ao lado deles, por medo de ser assaltado, estuprado, o que fosse. Mas que pra mim me passaram toda a segurança do mundo a ponto de apertarmos as mãos e ouvir pacientemente cada palavrinha que eles falavam com tanta vontade. Não sei se já fizeram algo de errado, não sei se são usuários de droga, não sei se já roubaram, eu sinceramente não sei , assim como não sei se  meu vizinho já fez isso, mas o que eu sei é que eu estava lá, frente a frente com eles, eles podiam fazer o que quisessem de mim, mas sorriram, comprimentaram, e conversaram comigo.
Por outro lado, hj tive uma experiência terrivel, com alguém que estava bem vestido, com livros na mão, aparentemente um estudante de classe média, que com certeza não faria você atravessar a rua para não passar ao lado dele, ele não transpassava nenhuma malícia. Mas foi tão podre, tão imundo, que os moradores de rua com quem conversei sentiriam nojo de passar ao lado dele, e eles sim atravessariam a rua para não ter que usar a mesma calçada que esse aparente estudante mauricinho.
Logo em seguida, depois de uma experiência horrivel, voltei chorando pra casa, e qual foi minha surpresa quando uma mulher me parou, perguntou se eu estava bem, e sem nem esperar eu responder me abraçou, um abraço apertado, um abraço gostoso,  um abraço que eu precisava sentir naquele momento.
Ela não me conhecia, eu não sei se a verei de novo, sei que ela me abraçou, disse que Deus era maior que tudo, se ofereceu pra me acompanhar em casa, e ela nem sabia o que tinha acontecido, mas ela me abraçou, uma estranha em plena São Paulo, me abraçou e me beijou no rosto, disse pra eu rezar que tudo ia ficar bem, se abriu comigo, disse que tinha depressão mas que Deus era maior que tudo.
Eu não sei explicar o que ta dentro de mim, sinceramente não tenho raiva nem ódio daqueles estudante, quisera ter de verdade, tenho raiva de mim por não ter raiva dele, o que tenho é nojo, um nojo tremendo, mas outra parte de mim está extremamente feliz, por ter conhecido hoje três pessoas maravilhosas, pessoas que não tiveram nenhum preconceito comigo, que aceitaram me conhecer sem nem eu mesma chamá-las, se arriscaram a vir falar com uma estranha, afinal, eu podia ser bandida, eu podia ser uma drogada, eu podia ser uma aproveitadora, porque realmente hoje aprendi, que quem vê cara definitivamente não vê coração.

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